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terça-feira, 22 de junho de 2010

A GREVE DERROTADA: CONSIDERAÇÕES



Depois de uma semana em greve (iniciada em 10/06 e findada em 17/06), os professores combativos foram derrotados em assembléia pelos governistas. Liderados pelo profº Sérgio Guerra, os governistas utilizaram os mais estapafúrdios argumentos como “a greve está isolada em relação às universidades estaduais (são quatro no total: Uneb, Uesc, Uefs e Uesb)” ou “o governo vai cortar o ponto dos professores”, dentre outros.

Não parece necessário enumerar todos e refutar tais argumentos. A Universidade do Estado da Bahia (Uneb) tem uma situação muito peculiar. Os seus vinte e quatro campi passam por um perverso processo de sucateamento, que vai desde a falta de professor até a precária estrutura física, quando existe uma estrutura física própria nos campi do interior. O salário dos docentes é um dos mais baixos de todo o Nordeste, sendo deste modo incompatível com a riqueza produzida pelo Estado em relação aos demais da região. A assistência estudantil é ineficaz. A greve dos docentes não era só legítima, mas imprescindível.

SURGE O MOVIMENTO ESTUDANTIL COMBATIVO.

De meros expectadores a sujeitos. Esse foi o percurso feito por estudantes que acompanhavam a assembléia que deflagrou a greve docente. Após a deflagração cerca de vinte estudantes reuniram-se no pátio do Departamento de Ciências da Vida (DCV-campus I – Salvador) para discutir a situação. Dessa reunião resultou uma mobilização de última hora que fez passagem nas salas dos departamentos que tem aulas noturnas, elaborou convocatória e a espalhou por todos os meios disponíveis, divulgando a assembléia estudantil marcada para o dia seguinte. Na assembléia o número de estudantes triplicou! Mais de oitenta estudantes se reuniram para pensar uma pauta própria do movimento e a melhor forma de marchar ombro a ombro com os professores em greve, a fim de derrotar o governo Wagner/PT e conquistar melhorias para a educação pública.

Essa movimentação estudantil se deu por fora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), ou mesmo contra ele. A representação máxima dos estudantes da Uneb era contra a greve em defesa da educação pública e a favor do governo. Não é mera coincidência o DCE ser dirigido por estudantes filiados ao PT.

Mais verbas para a educação, revogação da lei 7176/97 que fere a autonomia universitária, rubrica específica para assistência estudantil, restaurante universitário, ampliação do acervo da biblioteca. Esses são alguns pontos da pauta construída pelos estudantes mobilizados.

OS GOVERNISTAS SE MOBILIZAM

Enquanto os estudantes começavam a se mobilizar e os grevistas arquitetavam as próximas ações do movimento, os governistas mobilizaram pesado para abortar a greve na assembléia de avaliação do movimento.

Era possível ver, durante a assembléia, os governistas telefonando para seus pares comparecerem para o momento da votação. Quando enfim chegou o momento de votar a manutenção da greve o auditório estava tomado. E a greve foi então abortada, por uma votação de 93 contra a 58 a favor. Só essa votação já demonstrava o intento de preservar o governo em detrimento da luta por uma educação de qualidade. Mas eles foram além. Ao votarem pelo fim da greve, propuseram o retorno ao estado de greve. Cinicamente queriam se colocar como professores de luta, saindo da greve e retornando ao estado de greve! O comando de greve atacou a proposta indecorosa e conseguiu barrar a transformação da tragédia em comédia. Por fim, os professores governistas, sob vários pedidos de explicação, aprovaram o estado de mobilização. Foi dessa forma que o cênico deu lugar ao circense e seus atores promovidos a palhaços.

O PROTESTO SOLITÁRIO

Um estudante do campus V (Stº Antônio de Jesus), que acompanhava a assembléia, não se conteve ao final da votação que encerrou a greve e vociferou contra os professores que estes envergonhavam os estudantes e que o fim da greve não seria respeitado pelo movimento estudantil de sua cidade que ocupava o campus contra o sucateamento. Contrastando com esse protesto com cara de desabafo, o sorriso de escárnio e cinismo estampava no rosto de um estudante filiado ao PT, diretor do DCE.

A LUTA CONTINUA

A greve foi derrotada. O governo acusa os grevistas de ter interesses eleitoreiros. No entanto a universidade pública cai aos pedaços. As propagandas, cada vez mais apelativas, enaltecem os ‘feitos’ do governo Wagner/PT. Quem, afinal, tem interesses eleitoreiros?

Os estudantes mostraram que têm maturidade política para discutir os problemas da universidade. Mesmo quando seus representantes (o DCE) não promovem essa discussão, ao contrário, tenta obscurecer ao máximo de quem é a responsabilidade do sucateamento da educação pública.

A luta por uma educação pública, gratuita, de qualidade, laica e socialmente referenciada não pode abrandar. Os professores perderam uma batalha, mas a guerra continua. E os estudantes, com sua pauta própria, referenciada em assembléia podem e devem assumir a dianteira desse processo. A vanguarda dessa luta pode ser o lugar onde devem se encontrar os combativos estudantes em defesa de uma educação de qualidade. Até a vitória, sempre, estudantes!

3 comentários:

  1. A foto foi tirada do site da aduneb - www.aduneb.com.br - e é creditada à Raiza Rocha.

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  2. Esses poucos que são a favor da greve "em questão da nossa greve UNEB" são uma farsa total. Não fazem nada em defesa dos estudantes e se dizem participantes de um movimento de interesses particulares.

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